Postado em Sobre Rodas em 23/Janeiro/ | 11334 Visualizações
Para inaugurar os passeios de 2017, fomos conhecer a estrada que inspirou Roberto Carlos em 1969: A estrada velha de Santos!
A Rodovia Caminho do Mar (SP-148), conhecida como Estrada Velha de Santos, liga o litoral do estado de São Paulo (Santos, via Cubatão) ao planalto paulista (São Paulo, via Região do Grande ABC).
O passeio foi organizado pelo nosso amigo Acrísio Mota, do clube Fanáticos por Antigos. Foi quem organizou, fez contato com o parque autorizando nossa entrada, reuniu todos os 72 carros de 4 clubes diferentes e fez do passeio um sucesso!
Alguns carros fizeram o primeiro ponto de encontro na zona sul da Capital, o que já foi uma atração pra todos que passavam por lá!
De lá seguimos para São Bernardo do Campo
Quando chegamos no portal do Parque Estadual Serra do Mar, nossas credenciais foram conferidas enquanto víamos várias pessoas fazendo caminhada, corrida ou andando de bicicleta no acostamento. Fomos uma atração pra eles também!
Chegando no estacionamento do parque, encontramos outros lindos carros já nos aguardando pra começar o trajeto da serra.
Muitos amigos se reencontrando ou se conhecendo. Admirando as carangas uns dos outros, além de relembrar histórias e sonhos de consumo!
E quantos detalhes e peculiaridades pra adimirar!
O Acrísio deu os últimos avisos e recomendações.
Começamos então o percurso de 9,2 km de extensão (ida e volta 18,4 km).
Quantas memórias vieram à tona! De quem descia com os pais para o litoral, descendo por aquelas curvas sinuosas, sem cinto de segurança, sentindo o cheirinho de lona de freio queimando!
Belezas naturais e mirantes com vistas lindas da baixada santista e também da Usina Hidrelétrica de Henry Borden.
Além de rodarmos recolorindo as curvas da estrada, ainda fomos parando para conhecer os monumentos históricos existentes na via, que são tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico:
Nossa primeira parada foi no Pouso Paranapiacaba - "Paranapiacaba" quer dizer "Lugar do qual se vê o mar" em tupi.
Construção em alvenaria de pedra, tijolos e detalhes de granito, cercado de varandas. Tem um painel de azulejos pintados, retratando o mapa do Estado de São Paulo e as estradas existente na época. Era um antigo ponto de parada de carros durante a viagem entre Santos e São Paulo.
Vista linda! Se estiver com tempo limpo realmente dá para se ver o mar. Bem no alto da serra, antes das famosas curvas.
Há quem diga que Pedro I se encontrava com a Marquesa de Santos lá, mas isso seria impossível porque o imperador morreu em 1834 e a marquesa em 1867, sendo que o pouso foi construído apenas em 1922, durante a gestão do governador Washington Luís em homenagem ao centenário da independência!
A segunda parada foi no Belvedere Circular (outro ponto de parada e mirante), onde a estrada cruza pela primeira vez com a Calçada do Lorena.
A Calçada do Lorena, primeiro caminho pavimentado com degraus em pedras a ligar o litoral ao planalto paulista, foi construída em 1792. Incrível saber que D. Pedro I subiu a calçada para ir de Santos às margens do rio Ipiranga proclamar a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822! A subida por ela demorava dois dias! O que era muito rápido pra época!
A terceira parada foi no Rancho da Maioridade, que foi construído para descanso dos viajantes.
Tem esse nome porque a estrada já foi chamada Estrada da Maioridade, em homenagem à maioridade de D. Pedro II.
Ainda mantém as bicas para matar a sede das pessoas e dos radiadores (atualmente, não é recomendado pelo parque beber a água das bicas).
Vista linda a partir de lá!
Última parada foi no Padrão do Lorena, construído em homenagem a Bernardo José Maria de Lorena, governador da capitania de São Paulo, que mandou construir a calçada.
O memorial tem um medalhão de azulejos retratando Bernardo de Lorena e os painéis laterais ilustram cenas do século XVIII, como tropeiros e mulas carregando mercadorias.
Depois do padrão, há um longo trecho sem nenhum monumento até chegarmos ao ponto final.
Descansamos por um tempinho e voltamos pelo mesmo caminho, conforme as regras do parque.
Um pouquinho de história:
Era chamada Trilha dos Tupiniquins, Caminho de Paranapiacaba ou Caminho de Piaçaguera. Foi a mais antiga e principal ligação entre o litoral e São Paulo durante o período colonial.
Iniciava na vila de São Vicente, atravessando uma área alagada (Cubatão) e prosseguia até as nascentes do Rio Tamanduateí (Mauá) e, daí, ao Córrego Anhangabaú, na aldeia do índio Tibiriçá, em Piratininga (atual Pátio do Colégio, no centro histórico de São Paulo).
Devido ao movimento crescente na Trilha dos Tupiniquins, que, de São Vicente, dava acesso ao Caminho do Peabiru, Tomé de Sousa proibiu o trânsito nessas vias, ameaçando com pena de morte os infratores.
Em 1560, o governador Mem de Sá encarregou os padres jesuítas, sob as ordens de José de Anchieta, de abrir uma ligação entre São Vicente e o Planalto de Piratininga. Em 21 de março de 1598, o capitão-mor Jorge Correia determinou que o Caminho do Mar fosse restaurado.
Em 1661, o governo da Capitania de São Vicente mandou construir a Estrada do Mar, com mais de setenta pontes, para permitir a passagem de carroças e carruagens. Em 1789, o então governador da Capitania, Bernado José de Lorena, recuperou o já então chamado Caminho do Mar e mandou pavimentar o trecho da Serra com lajes de granito, formando a Calçada de Lorena.
No século XIX, a produção de café no planalto paulista conheceu grande desenvolvimento, e o único modo de escoá-la era encaminhando-a ao porto de Santos, pela antiga Calçada do Lorena, então em condições precárias.
Foi construída a Estrada da Maioridade (nome original da estrada). Com trajeto muito sinuoso, era um monumento da engenharia, pois sua antecessora, a Calçada do Lorena, não tinha mais que um metro de largura, enquanto nessa era possível, inclusive, a passagem de carruagens.
Entre 1862 e 1864, passou por uma grande reforma, cuja principal característica foi o refazimento de alguns trechos para o melhor aproveitamento da estrada, como a chamada Curva da Morte, uma curva bem fechada em plena descida onde eram muito comuns os acidentes, vários deles causando a morte das pessoas. Após essa reforma, a curva ganhou uma abertura bem maior.
Nas primeiras décadas do século XX, São Paulo passou por uma reconstrução financiada pelo capital vindo das exportações de café. Nessa época foi difundido o uso de automóveis. A partir daí os recursos públicos passaram a ser destinados à construção de rodovias, deixando as ferrovias em segundo plano.
Em 1913, a demanda de automóveis entre a planície e o planalto é muito grande, permitindo-se o uso de automóveis na estrada. Logo depois foi pavimentada com concreto, tornando-se a primeira estrada da América Latina destinada para veículos de motor à explosão.
Em 1920, a estrada e a ferrovia já não eram suficientes para atender a demanda por transporte na região. A ferrovia começou a ter congestionamentos e a estrada apresentava vários fatores que limitavam o número de veículos circulando nela. Nessa época, São Paulo, o ABC e Cubatão estavam se consolidando como parques industriais, aumentando ainda mais a demanda pela ligação entre elas. A cidade de Santos e toda a sua baixada estavam se transformando em pólos turísticos, o que decididamente exigia uma nova ligação entre a planície e o planalto.
Em 1947, foi inaugurada a primeira pista da Via Anchieta; em 1953, a segunda; em 1974, foi inaugurada a pista norte da Rodovia dos Imigrantes; e, em 2002, a pista sul. As técnicas de construção da Via Anchieta eram muito mais aprimoradas do que as do Caminho do Mar. Logo, a Estrada foi passada para trás e ficou subutilizada, assim ficando por várias décadas. Foi fechada para veículos em 1985.
No período 1992-2004, a estrada foi reformada, tornando-se, atualmente, o Polo Ecoturístico Caminhos do Mar, que é formado pela estrada Caminho do Mar e por um trecho da Calçada do Lorena.
Em dezembro 2013, o trecho de nove quilômetros que liga o planalto ao litoral, hoje popularmente conhecido como Estrada Velha de Santos, foi reaberto à visitação como um destino turístico, que faz parte do Parque Estadual da Serra do Mar.
Dicas:
Funcionamento: terça a domingo
Horário: ENTRADA às 9 horas (tolerância de entrada até às 9h30) e SAÍDA nos portais até as 16 horas.
Agendamento de visita:
É necessário agendamento prévio por telefone ou e-mail, com no mínimo 10 dias de antecedência.
- http://www.parqueestadualserradomar.sp.gov.br/pesm/nucleos/caminhos-do-mar/contato/?filter=agendar
- (11) 2997-5000 - Ramal 356 ou 364.
- pesm.caminhosdomar@fflorestal.sp.gov.br
Preço: R$ 28 por pessoa. (meia entrada para estudantes e isenção para acima de 60 anos ou abaixo de 12 anos)
Acesso: Por São Bernardo do Campo - Rodovia SP-148, estrada Caminho do Mar, km 42
Por Cubatão - Rodovia SP-148, estrada Caminho do Mar, km 51, junto à Refinaria Presidente Bernardes.
É recomendado o uso de calçados confortáveis já que nos monumentos há pisos irregulares, repelente por causa da mata, protetor solar e saquinhos para lixo.
Não é recomendado beber água das bicas.
Proibido o consumo de bebidas alcoólicas.
Os Velhinhos no Asfalto já estão prontos para o 2º Pé na Estrada Velha de Santos! Enquanto não chega, continuamos nossos encontros mensais, conhecendo lugares bacanas em São Paulo. Acompanhe:
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